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Escrever, me dizia, muda sobretudo o modo de ler.

– Aprendemos a ler antes de aprender a escrever e são as mulheres que nos ensinam a ler.

É isso que para mim significa construir uma recordação, estar disponível e ser surpreendido pelo brilho fugaz de uma reminiscência.

Como alguém se converte em um escritor? – ou é convertido em um escritor? Não é uma vocação, a quem acontece, também não é uma decisão, parece mais uma mania, um hábito, um vício, se alguém deixar de cumprir, sente-se mal, no entanto é ridículo ter que fazer, e no final acaba virando um modo de vida (como qualquer outro).

Nada da vida interior, apenas feitos, ações, lugares, circunstâncias que repetidas criavam a ilusão de uma vida. Uma ação – um gesto – que insiste e reaparece e diz mais que tudo o que eu possa dizer de mim mesmo.

A experiência, tinha se dado conta, é uma multiplicação microscópica de pequenos acontecimentos que se repetem e se expandem, sem ligação, dispersos, em fuga. Sua vida, compreendera então, dividia-se em sequências lineares, séries abertas que remontavam a um passado remoto: incidentes mínimos, ficar sozinho em um quarto de hotel, ver sua cara em

Não me lembro de tudo o que li, mas posso reconstruir minha vida a partir das estantes da minha biblioteca: épocas, lugares, poderia organizar os volumes cronologicamente.

O que fixava a cena na memória, Renzi acreditava, era o peso dessa bondade sem expectadores, ninguém sabe que é ele quem escreve.