Se fazemos algo – abrir uma porta, digamos – e pensamos depois no que fizemos, é ridículo; no entanto se olhamos de uma sacada a reprodução dessa mesma coisa é suficiente para tirarmos uma sucessão, uma forma comum, inclusive um sentido.

O que se fixa na memória não é o conteúdo da recordação, mas sua forma. Não me interessa o que a imagem pode esconder, interessa-me apenas a intensidade visual que persiste no tempo, como uma cicatriz. Eu gostaria de contar minha vida seguindo esses cenários, como quem segue os sinais em um mapa para guiar-se em uma cidade desconhecida e

Pode ser, depende do que se faz no trigal.

É isso que para mim significa construir uma recordação, estar disponível e ser surpreendido pelo brilho fugaz de uma reminiscência.

O que fixava a cena na memória, Renzi acreditava, era o peso dessa bondade sem expectadores, ninguém sabe que é ele quem escreve.

ainda que seja através da humilhação e do susto. Por isso os jovens – e os assim não tão jovens – andam por aí com seus textos procurando alguém que os leia e lhes diga: ah você também escreve; claro que agora sobem na web, mas do mesmo jeito lhes falta um abono, alguém que lhes diga – pessoalmente – você também está desse lado...

Não me lembro de tudo o que li, mas posso reconstruir minha vida a partir das estantes da minha biblioteca: épocas, lugares, poderia organizar os volumes cronologicamente.

– Aprendemos a ler antes de aprender a escrever e são as mulheres que nos ensinam a ler.

Escrever, me dizia, muda sobretudo o modo de ler.