enaile
@allthemystery
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ainda que seja através da humilhação e do susto. Por isso os jovens – e os assim não tão jovens – andam por aí com seus textos procurando alguém que os leia e lhes diga: ah você também escreve; claro que agora sobem na web, mas do mesmo jeito lhes falta um abono, alguém que lhes diga – pessoalmente – você também está desse lado...
Escrever, me dizia, muda sobretudo o modo de ler.
Tinha uma forma imediata e calorosa de criar intimidade,
Lembro o trem em que voltei a Adrogué e o guarda que apareceu na plataforma e não me deixou terminar a frase que estava escrevendo na parte de trás do livro. A frase acabou incompleta, essa trilha (É difícil ser sincero quando se perdeu... o quê?) não sei se é uma citação ou uma frase minha (as que nos vêm à cabeça quando lemos).
Não me lembro de tudo o que li, mas posso reconstruir minha vida a partir das estantes da minha biblioteca: épocas, lugares, poderia organizar os volumes cronologicamente.
Havia descoberto a literatura não pelo livro, mas por essa maneira febril de lê-lo avidamente com a intenção de dizer algo a alguém sobre o que havia lido: mas o quê?
Pode ser, depende do que se faz no trigal.
Sempre haverá um hiato intransponível entre o ver e o dizer, entre a vida e a literatura.