No dia 14 de setembro o jogo Roube um Brainrot, criado pelo desenvolvedor brasileiro Spyder Sammy [1], alcançou o recorde de maior número de jogadores simultâneos no mundo, foram 24 milhões de pessoas online [2] via a plataforma Roblox, onde o jogo é disponibilizado, ao mesmo tempo.

Esse também foi o dia em que minha esposa e eu tiramos o jogo do nosso filho de 10 anos.

Incrivelmente o motivo não foram os mais de 20 processos judiciais que acusam a Roblox de facilitar que seus usuários menores de idade fossem coagidos ou manipulados a compartilhar material sexualmente explícito ou realizar atos sexuais, acusação semelhante à feita pela Delegada e chefe do Núcleo de Operações e Articulações Digitais (Noad) da Polícia Civil de São Paulo, Lisandrea Colabuono em entrevista ao Estadão. Processos nessa linha ocorrem também na Bélgica, Holanda e Guatemala. Ou o fato da plataforma ter sido usada para conectar uma menina de 10 anos de idade com seu sequestrador. Estes problemas estão atrelados ao uso do bate-papo interno da plataforma que até XXXX era ligado automaticamente para usuários de todas as idades. Atualmente é desligado para menores de 13 anos, porém é possível facilmente mentir sua idade. A empresa diz estar trabalhando para resolver isso.

Na esfera moral havia o fato da companhia induzir trabalho de infantil em suas plataformas e o fato de muitos jogos inadvertidamente conterem temas adultos, racistas e nazistas.

Mas para explicar o real motivo da nossa família, começo pela tensa entrevista dada pelo CEO da Roblox, David Baszucki ao podcast Hard Fork do jornal New York Times em 21 de novembro. Nela Baszucki disse que considera implementar um sistema de apostas dentro da plataforma, isso seria algo “muito divertido e óbvio”. Ele falava de algo semelhante ao site Polymarket, onde adultos apostam nos resultados de eventos, desde de quem irá ganhar eleição presidencial até se haverá uma guerra civil nos EUA em 2025. Isso deve soar chocante para a maioria dos pais, porém, apostas já são o motor do site, a sua grande fonte de monetização.

Roube um Brainrot demonstra isso de forma escancarada. O jogo se inicia com uma esteira por onde aleatoriamente surgem personagens [3] de diferentes valores que devem ser comprados. Essa mecânica, uma mistura de vitrine com loteria em cima de uma linha de montagem, cria um caça níquel perpétuo. Esses dois fatores, aleatoriedade e constância ininterrupta, e a combinação entre eles são comuns em jogos que buscam aumentar o tempo de engajamento e vício, em videogames e apostas.

A antropóloga do MIT Natasha Dow Schüll no seu livro Addiction by Design (Vício Planejado em tradução livre) de 2012 sobre máquinas de azar fala sobre a “Machine zone” (Zona da Máquina), estado em que se perde a noção do tempo e do fluxo consciente, buscando apenas manter o ritmo contínuo e hipnótico do jogo. Com esse objetivo as máquinas mais atuais contam com um sistema de crédito para o jogador não precisar colocar uma moeda após cada partida, também aceleraram a premiação com impressão de recibos ao invés da queda de moedas. As redes sociais buscam o mesmo efeito com o infinite scroll, → DEFINIR INFINITE SCROLL ←. → MOSTRAR COMO JOGOS TAMBËM TEM ISSO ALÉM DA ESTEIRA ←

→ ALEATORIZAÇÃo ←