O porquê das drogas (Portuguese Edition)

A filosofia nos propõe uma questão fundamental: o que é a realidade? Sob efeito de drogas, nossa consciência e nossa percepção do mundo que nos rodeia se alteram. Seriam essas percepções falsas?

Meu ponto é que as drogas, numa acepção estritamente moral, não ficam atrás de uma visita à igreja, de uma ida ao estádio ou de uma trilha pelas montanhas no que diz respeito à busca por um estado desejado de consciência.

Nossa existência consiste em grande medida em ajustar a consciência na direção de algo que valorizamos. As drogas são uma ferramenta eficaz para esse propósito, e é difícil condenar o uso desse artifício em detrimento de outros.

Parto do princípio de que as pessoas estão constantemente procurando maneiras de alterar a consciência. Algumas vão à igreja, algumas escalam montanhas, outras vão a estádios de futebol e todas agem assim para alcançar um estado de espírito que lhes agrada. Buscamos comunhão com certas coisas e não com outras porque aquelas nos fazem sentir bem. Às

assim, é importante ter em mente que a alteração da consciência é um estado natural da espécie, não algo que o homem moderno descobriu. Como veremos em breve, tampouco é um fenômeno contemporâneo recorrer a diferentes substâncias para induzir essas alterações.

Inebriar-se sem o uso de aditivos pode ser intenso e prazeroso, mas pouco tem a ver com os efeitos que certas drogas proporcionam. Se seus amigos planejaram uma noite com bebidas, maconha ou MDMA, certamente ficarão decepcionados se em vez disso você lhes propuser apreciar o pôr do sol.

Os processos químicos que proporcionam uma experiência inebriante ocorrem naturalmente quando o ser humano realiza duas de suas atividades mais essenciais: se alimentar e se reproduzir. Além

Somos constituídos de tal modo que somos recompensados, experimentando uma forma de entorpecimento, ao fazermos aquilo que é mais necessário para nossa sobrevivência: quando nos alimentamos e quando fazemos sexo. Ou, como diria Hans Christian Andersen: tudo na natureza é tão sabiamente ajustado que só de imaginar nos chega a ser prazeroso.

Desse modo, podemos dizer que as drogas são tanto um construto cultural quanto uma condição neurobiológica.