A hora da estrela (Portuguese Edition)

Ninguém soa como Clarice. Ninguém pensa como ela. Ela não apenas parece dotada de mais sentidos do que os cinco conhecidos, mas também curva a sintaxe e a pontuação de acordo com sua vontade.

Nada e tudo são pensados, intuitiva e sugestivamente envolvendo o leitor. Este aqui, pelo menos, absorve, relê, repensa, ri e volta frase por frase, em admiração constante.

Macabéa, nome sonoro que remete ao nordeste brasileiro, também nos leva à origem dos guerreiros judeus rebeldes, os macabeus, contra a cultura grega estrangeira e invasora.

A hora da estrela pode também nos remeter a um dos maiores símbolos do judaísmo, a estrela de David, com seis pontas.

Nossa pobre Maca hoje é um dos símbolos do brasileiro alienado, malnutrido desde a infância, ingênuo e primitivo,

Rodrigo S.M. é, de certa forma, uma projeção da própria Clarice, pois tal como os heterônimos em Fernando Pessoa, ela escreve in[corpo]rando seu personagem,

a realidade não é um fenômeno puramente externo.

No caso de A hora da estrela, há um sentido claro e direto, sem mistérios: a vida é cruel, injusta e dramática para os excluídos do progresso na metrópole brasileira.

A gente só pode fazer bem as coisas que ama realmente.