Essa apresentação me dava uma vantagem, eu já parecia ser alguém, não precisava demonstrar nada, mas por outro lado tudo se tornava mais difícil, porque eu precisava corresponder à expectativa criada. Precisava dizer coisas que um aspirante a escritor diria, coisas que as outras pessoas nunca tivessem pensado antes. Mas não era o que acontecia. As

A introspecção era justamente o meu forte. Eu sabia exatamente quem eu era.

Os catorze anos durante os quais morei em Bergen, de 1988 a 2002, acabaram faz tempo, e não deixaram nenhum rastro, a não ser como episódios que talvez certas pessoas ainda lembrem, um lampejo numa cabeça aqui, um lampejo numa cabeça ali, e claro tudo que existe na minha própria lembrança daquele tempo. Mas é surpreendentemente pouco.

Um arrepio de felicidade percorreu o meu corpo. Era a chuva, eram as luzes, era a cidade grande! Era eu mesmo, eu seria um escritor, um astro, uma luz para os outros!

Ingvild não me viu logo ao entrar no Opera. Andou com passos um pouco hesitantes enquanto olhava ao redor, vestida com uma blusa branca com listras azuis, uma jaqueta bege e uma calça jeans azul. Os cabelos estavam mais compridos do que na última vez em que eu a tinha visto. Meu coração batia tão forte que eu quase não conseguia respirar.

Nas horas seguintes, desci ao porão três vezes com o meu livro enfiado dentro da calça.

Mas eu estava sozinho sob o sol, sozinho em frente ao mar, e além do mais vazio. Era como se eu fosse o último homem. Aquilo tornava a leitura e a escrita totalmente desprovidas de sentido.

Era bom estar junto ao mar. Sentir o cheiro da maresia e a aspereza do vento que soprava. Aquele era o meu mar, eu estava quase em casa.

Quando a discussão chegou ao fim eu estava irritado e constrangido, mas também confuso, pois mesmo sabendo que os elogios tinham sido um consolo, restava ainda o fato de que eu tinha sido aceito, o que não tinha acontecido com Kjetil, por exemplo, então devia mesmo haver coisas boas no que eu tinha escrito.