Escrever não era nenhum mistério. Bastava inventar uma história qualquer, como Hamsun havia feito. Parte da minha preocupação e da minha inquietude sumiram com esse pensamento.

Essa apresentação me dava uma vantagem, eu já parecia ser alguém, não precisava demonstrar nada, mas por outro lado tudo se tornava mais difícil, porque eu precisava corresponder à expectativa criada. Precisava dizer coisas que um aspirante a escritor diria, coisas que as outras pessoas nunca tivessem pensado antes. Mas não era o que acontecia. As

às vezes como se estivesse surpreso ou então houvesse tido uma revelação súbita, e a maneira como falava, hesitante, cheia de pausas, cortes, pigarros, fungadas, um fôlego repentino de vez em quando, criava uma aura de nervosismo e intranquilidade, o que dizia era, de maneira totalmente diferente, repleto de segurança.

Pelos dois dias a seguir, fomos bombardeados com poesias e nomes de poetas, escolas e movimentos.

Enquanto eu lia, o pavor no meu peito cresceu, pois aquilo era infinitamente melhor do que o que eu havia escrito, não haveria sequer um termo de comparação, aquilo era arte, pelo menos essa parte eu entendia.

Eu gostaria de ter comprado livros, de preferência antologias de poesia, já que eu mal tinha lido um poema em toda a minha vida, a não ser pelas leituras da escola,

Mas eu estava sozinho sob o sol, sozinho em frente ao mar, e além do mais vazio. Era como se eu fosse o último homem. Aquilo tornava a leitura e a escrita totalmente desprovidas de sentido.

— Andei compondo umas músicas nestes últimos tempos — ele disse. — Você quer ouvir? — Claro — eu disse. — Ou melhor, não são bem umas músicas — ele disse, ajustando a correia no ombro. — Na verdade, são apenas uns riffs. Senti uma ternura repentina por Yngve ao vê-lo de pé. Ele ligou o amplificador, virou de costas para mim e afinou a guitarra,

Um arrepio de felicidade percorreu o meu corpo. Era a chuva, eram as luzes, era a cidade grande! Era eu mesmo, eu seria um escritor, um astro, uma luz para os outros!