Será que podemos dizer que a colonização foi justamente o espetáculo por excelência da comunidade impossível – uma convulsão tetânica e ao mesmo tempo um sibilo inútil?

A descolonização é um evento cuja significação política essencial residiu na vontade ativa de comunidade – como outros falavam outrora da vontade de poder.

Se, como dizia Frantz Fanon, a comunidade descolonizada se definia por sua relação com o futuro, a experiência de uma nova forma de vida e uma ligação nova com a humanidade14, quem então redefinirá o conteúdo original para o qual uma forma nova deve ser criada?

Uma de suas teses é que a descolonização inaugurou o tempo da bifurcação na direção de futuros inumeráveis. Esses futuros eram, por definição, contingentes. As trajetórias seguidas pelas nações recém-libertas foram, em parte, consequência de lutas internas às sociedades em questão5. Essas lutas foram moldadas pelas formas sociais antigas e as

A África não é mais um espaço circunscrito cujo lugar pode ser definido e que esconderia um segredo ou um enigma, e que, além disso, pode ser demarcado. Mesmo que o continente ainda possa ser chamado de lugar, ele é, para muitos, um lugar de passagem ou de trânsito. É um lugar em vias de se desfazer num modelo nômade, transitório, errante e de

À vontade de comunidade juntava-se a vontade de saber e o desejo de singularidade e de originalidade.

Enquanto forma e figura, ato e relação, a colonização foi, sob muitos pontos de vista, uma coprodução dos colonizadores e dos colonizados. Juntos, mas em posições diferentes, eles forjaram um passado.

Além disso, conhecemos a fraqueza das oposições. O poder e a oposição operam em função de um curto prazo marcado pelo improviso, por arranjos pontuais e informais, por compromissos e comprometimentos diversos, pelos imperativos da conquista imediata do poder ou da necessidade de conservá-lo a qualquer preço. Alianças são feitas e desfeitas

Fanon não propunha simplesmente não “seguir” essa Europa: ele propunha “abandoná-la”, porque seu jogo terminara. Chegara a hora de passar a “outra coisa”, dizia. Daí a necessidade de retomar a “questão do ser humano”. Como? Andando “o tempo todo, noite e dia, em companhia do ser humano, de todos os seres humanos”8. É isso que fazia da comunidade