5 de janeiro de 1996 Às vezes eu olho pela janela do meu quarto e me pergunto se eu sobreviveria se pulasse. Acho que vou ter que procurar uma janela mais alta.

Eu não fazia ideia do que era uma burocracia. Meu pai vivia dizendo sobre as coisas terríveis que os portugueses tinham deixado para o Brasil, como nos escravizaram e colocaram meus avós em internatos pra que eles não pudessem mais falar suas línguas originais e obrigando eles a rezarem para seus santos. Esperava que essa “burocracia” não fosse

A morte nem sempre é o fim das coisas. Nem tudo que está enterrado fica pra sempre no chão, porque mesmo que os espíritos voltem para a terra, a maioria dos problemas terrenos sobram para os vivos.

Enchi os pulmões com o cheiro de mato e me senti leve. Sentada na grama com os pés na água, ouvi

Eu ficava feliz em saber que o carregava comigo de alguma forma, no cabelo preto e na pele terrosa, nos lábios grossos, e olhos de jabuticaba como ele costumava dizer; mas do jeito que as pessoas falavam, nunca parecia ser algo bom.

Minha maior angústia era deixar as pessoas desconfortáveis, mesmo que isso fosse às custas do meu próprio conforto.

Me sinto exausta. Em tantos filmes as “mulheres fortes” vão atrás de vingança para retomar seu orgulho, mas aquilo parecia sem sentido. Como se mata um monstro que só vive na sua memória? Cuspir em seu túmulo traria de volta os pedaços que ele arrancou de mim?

As páginas seguintes eram repletas de pessoas que eu nunca vi. Rostos tristes e felizes, nunca encarando diretamente pra quem os observa. Era uma experiência interessante olhar o mundo pela percepção de Amanda. Tudo em constante movimento, como se ela estivesse inquieta demais para focar num assunto ou as pessoas fossem inconstantes demais pra

Chamei por ela nos meus pensamentos, pedi para os encantados que a alcançassem através dos sonhos. Era como se a minha alma estivesse gritando através do oceano, mas essa voz também estava ficando rouca.